Depois de treinar 100% dos cerca de 500 motoristas que atuam nas linhas metropolitanas da Grande João Pessoa, nas cidades de Bayeux, Cabedelo, Santa Rita e nas linhas urbanas da capital paraibana, as empresas concessionárias de transporte começaram nesta quarta-feira (24), a segunda fase do Programa de treinamento “Transporte Inclusivo”. O lançamento deste novo ciclo de capacitação aconteceu na manhã de hoje, na garagem da Unitrans, em João Pessoa.
Na primeira fase do Programa, realizada entre setembro e dezembro de 2023, o foco foi a capacitação dos motoristas para que eles conhecessem as demandas das pessoas deficientes, soubessem melhor distinguir a necessidade de cada tipo de deficiência, os direitos dos deficientes e os deveres das empresas com esse público específico. Agora, neste novo ciclo, serão treinados profissionais das empresas de ônibus que não estão no contato imediato com os passageiros, mas que ocupam cargos de chefia, coordenação, liderança, supervisão e gerência na operação das empresas, além dos próprios empresários das seis empresas que operam o sistema.
Segundo o Diretor Institucional do Sintur/JP, Isaac Moreira, essa ação é realizada desde o início em conjunto com o Ministério Público Estadual. “Neste aspecto quero destacar o empenho e interesse de Dr. Glauberto Bezerra, que participa com a gente deste processo desde a concepção e que tem não apenas mudado a visão das empresas em relação a acessibilidade, mas também o comportamento social porque o respeito a pessoa deficiente não é uma questão localizada de nossa atividade, mas de toda a sociedade e isso requer muito empenho e atenção tanto da empresa privada, como do poder público”, afirma o executivo do Sintur.
Isaac lembra que não há, em nível nacional, nenhuma iniciativa tão ampla como a que está sendo desenvolvida na Paraíba, que trabalhe tanto os operadores, quanto a retaguarda das empresas de transporte, incluindo ai os próprios diretores das empresas, fazendo disso um Programa contínuo de melhoria do transporte coletivo. “Somos pioneiros e únicos com essa dimensão”, falou ele.
O Promotor de Justiça, Glauberto Bezerra, enfatizou a necessidade de se investir neste tipo de treinamento. “A pessoa com deficiência não é portador de deficiência, porque ninguém põe a deficiência num saco e a leva nas costas e tira quando quer. São pessoas com sentimentos, que são inteligentes e temos que ter empatia, olhar com sensibilidade e buscar sentir a dificuldade dos outros e é isso o que a gente está fazendo aqui com esse Programa, ou seja, trazendo mais dignidade ao tratamento com essas pessoas”, enfatizou o Promotor.
“João Pessoa tem uma característica de sair na frente em vários aspectos e esse Programa é mais uma iniciativa de melhoria do serviço, que se volta com um olhar de empatia e mais respeito com a pessoa deficiente que utiliza nossos veículos para se locomover”, disse o empresário e diretor da Unitrans, Alberto Pereira. E nas atividades deste primeiro dia de treinamento, ele simulou ser um cadeirante para experimentar a acessibilidade do ônibus através da plataforma elevatória. “Eu já tive a experiência de usar cadeira de rodas durante 90 dias quando rompi o tendão da perna esquerda e tive que fazer uma cirurgia e sei das limitações que isso impõe”, disse o empresário.
Esse Programa é mais que um treinamento, afirmou a Diretora da Unitrans Lorena Dantas, lembrando que essa vivência com os motoristas foi encerrada com sucesso e agora começa essa etapa que vai trabalhar com os profissionais internos. “Se colocar no lugar do outro é um exercício necessário e esse Programa é enriquecedor neste aspecto e a gente ganha muito com ele, porque crescemos na humanização, e a população ganha também sendo mais bem atendida e estamos aqui, retomando essa capacitação, agora com novo público, reafirmando nosso compromisso social com toda a população”, destacou Lorena.
“Esse Programa é muito importante para todos nós e está inserido no cronograma de treinamentos anual da empresa e será realizado com regularidade”, reforçou a Diretora da Unitrans, Larissa Nascimento. Segundo ela, o Programa será inclusive apresentado na escola de sua filha durante uma atividade pedagógica, nesta quinta-feira (25), como exemplo de uma ação de inclusão importante para a sociedade.
O vereador Dinho, presente à solenidade, elogiou a iniciativa das empresas. “A gente precisa evoluir e evoluir com políticas que tragam benefício para a população e essa, sem dúvida, é uma inclusão necessária e importante e que melhora o serviço de transporte em nossa cidade e é preciso não apenas reconhecer, como aplaudir essa ação”, disse ele.
“Agradeço o convite e fico muito feliz de participar deste evento e destaco o reconhecimento das empresas em se preocupar com o consumidor pessoense como um todo com esse Programa de Inclusão, aliás, a inclusão é objeto de debate intenso em todos os órgãos de proteção e defesa do consumidor, de forma que essa iniciativa de treinamento com esse foco precisa ser exaltada e estimulada porque dá dignidade e cidadania a quem anda de ônibus, porque o tratamento para com esse público deve ir muito além de dispor de elevadores nos ônibus”, disse o representante do PROCON/JP, Rougger Guerra.
Carol Vieira, publicitária, cadeirante e uma das facilitadoras do Programa, lembrou que 27% da população paraibana tem algum tipo de deficiência e que esse Programa vai, de alguma forma, fazê-los se sentir em condições de igualdade de oportunidades. “Esse processo do ir e vir também faz parte de nossa inclusão e do nosso reconhecimento enquanto cidadãos. Pensar em estudar trabalhar, ir para algum lazer é uma coisa básica e às vezes a gente não tem nem condição de sair de casa, nos colocando em situações de vulnerabilidade e o que a gente vê com esse Programa é exatamente o contrário, ou seja, ele nos inclui e amplia a nossa autonomia”, destacou ela.
A presidente da Associação Integrada das Mães de Autismo, Helaine Araújo, reforçou a relevância da iniciativa das empresas. “Quando a gente vê uma empresa que treina seus funcionários com esse olhar inclusivo, a gente fica muito feliz, pois isso evidencia que ela contribui para mudar essa concepção e acolhimento, melhorando não apenas o serviço, mas a própria sociedade”, disse ela,
Ainda durante o evento foi realizada uma dinâmica, onde o empresário Alberto Pereira, se colocou como cadeirante para usar o elevador do ônibus e o diretor da empresa São Sebastião, Diego Lopes, usou um tapa olho para simular a deficiência visual. Ambos vivenciaram as dificuldades que as pessoas deficientes têm ao usar o transporte. “De fato não é fácil, eu mesmo tive muita dificuldade de entrar no ônibus”, disse Diego, enaltecendo a importância da empatia e do treinamento do operador para melhor lidar com esse público específico.
Segundo a também facilitadora do Programa nesta segunda fase, a Educadora Popular, Douracir Vieira, serão realizados oito encontros, uma vez por semana, às 4ª feiras, até o dia 19 de Junho, quando ocorrerá o encerramento desta etapa que vai trabalhar com os funcionários das empresas Santa Maria, Transnacional, Reunidas, São Jorge, São Sebastião e Nossa Senhora da Aparecida.
