Tão importante quanto falar em tratamento contra o câncer é desmistificar a negatividade que permeia o imaginário das pessoas quanto aos cuidados paliativos de quem tem a doença. No senso comum, se o paciente está sob os cuidados paliativos é porque ele está “aguardando” a morte e isso não é verdade. E para explicar tudo a respeito do tema, que é um direito de todos os pacientes oncológicos, inclusive, pois visa garantir que eles recebam um tratamento correto e mais humanizado, o Hospital do Bem encerrou a última Roda de Conversa com a oncologista e responsável pelo ambulatório do Hospital, Nayarah Xavier, falando sobre ‘Abordagem da Medicina em cuidados paliativos na Oncologia’.
A médica iniciou sua aula destacando que antigamente os cuidados paliativos eram indicados quando a saúde do paciente se complicava – e até mesmo quando não havia mais opções de tratamento. Mas isso mudou e hoje a equipe de Cuidados Paliativos já começa a trabalhar com o paciente no momento em que o tratamento curativo não está mais atuando. “O objetivo é mudar o curso da doença. É paliativo e não ‘largativo’, digo sempre aos meus alunos. Queremos melhorar a qualidade de vida do paciente no processo de adoecimento”, explicou a médica, lembrando que para a terapia paliativa o paciente tem que atender a alguns indicativos como ele não ser candidato à terapia de cura, ter nível inaceitável de dor por mais de 24h, internação prolongada em UTI e no caso de câncer, ser metastático e sem possibilidade de intervenção.
Ela apresentou a história dos Cuidados Paliativos, como surgiu e o legado de Cicely Saunders, que norteou os fundamentos da terapia paliativa com o caso de David Tasma, de quem cuidou até a morte mesmo com um diagnóstico de câncer terminal. Dra. Nayarah frisou que Saunders defendia que o paciente era importante até o dia de sua morte e que a equipe deve ajudar em tudo nesse processo, oferecendo cuidados que reconheçam as necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais do individuo. “É o que ela chamou de dor total, ou seja, a dor que não separa corpo, alma e espírito. O paciente também precisa de compaixão”, comentou ela, acrescentando que por meio da compreensão desse conceito uma equipe sabe que aliviar a dor é algo que vai muito além da administração de analgésicos.
Nesse sentido, Nayarah ressaltou a extrema necessidade do médico compreender a situação. “Se a morfina tem efeito de 4 horas, o médico não pode passar o medicamento de oito em oito horas”, reforçou ela. Além disso, a médica também citou a dor emocional que leva à mudança do humor, à perda do controle sobre a própria vida, à desesperança, mas, também leva a uma necessidade de redefinição perante o mundo. A dor social que vem com o medo do isolamento e abandono, da dificuldade de comunicação, da perda de “status”. A dor espiritual se reflete na perda do sentido e significado da vida, da esperança, é a ‘dor da alma’.
A médica disse ainda que o desconforto apresentado pelo paciente e familiares em falar sobre a finitude da vida é que gera o maior problema. “Não se tem um protocolo a seguir. A ideia central é a compaixão. Então, temos uma estratégia para isso”, apontou a médica citando algumas. “Abordagem holística, linguagem clara, entender o paciente como ser biográfico, mais que biológico, entender que ele tem muito a viver, controlando os sintomas. A equipe precisa saber do que ele gosta, como ele gosta de ser chamado, que tratamentos já foram feitos para juntos analisar como garantir que o paciente tenha durante todo o processo qualidade de vida, conforto, alívio do sofrimento e seus sintomas controlados”, concluiu.
Ao final da Roda de Conversa, o diretor geral do Complexo Hospitalar Regional Deputado Janduhy Carneiro de Patos (CHRDJC), Francisco Guedes, ao qual o Hospital do Bem está integrado, parabenizou a todos os envolvidos no evento comemorativo de aniversário dos três anos da unidade e falou de seu orgulho em ver o Hospital do Bem cada vez mais forte e reconhecido pelos serviços prestados. “Aqui nós procuramos o tempo todo oferecer dignidade, tratamento adequado, reduzir distâncias. Como foi importante ter esse hospital aqui no sertão para que os pacientes não tivessem que enfrentar as viagens para Campina Grande ou João Pessoa e ser recepcionado em um lugar diferente, longe da família”, comentou o diretor.
Para Francisco, os três anos da unidade são um marco. “Completamos três anos com maestria. Somos uma criança que começa a andar e já sabe falar. Crescemos, avançamos e vamos continuar para transformar a unidade em uma referência na Paraíba”, concluiu, encerrando a última edição da Roda de Conversa, que debateu temas sobre o universo da Oncologia, abordados por vários profissionais da unidade.
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