Uma das principais referências de Urgência e Emergência no sertão paraibano e de atendimento à vítimas de sinistros de trânsito, o Complexo Hospitalar Regional Deputado Janduhy Carneiro de Patos (CHRDJC) sente o impacto dessa demanda cotidianamente. Neste último final de semana, por exemplo, dos 172 pacientes que deram entrada na unidade, entre os dias 10 e 12, 39 deles foram de pessoas que se envolveram em acidentes de trânsito. Nesta segunda-feira (13), a psicóloga e responsável pela gestão de indicadores do hospital, Gorete Rezende representou a diretoria da unidade no 1º Encontro Regional de Conselheiros Municipais de Saúde. O evento, realizado no auditório da UNIFIP, teve como pauta principal debater o impacto dos acidentes de trânsito no Sistema único de Saúde (SUS).
E esses impactos são gritantes, tanto em nível mundial, como nacional, já que essa é a nona maior causa de morte no mundo e uma das que mais deixam sequelas nas vítimas. No Brasil, isso é ainda mais preocupante, já que a cada 15 minutos uma pessoa morre em sinistros de trânsito e essa é a segunda causa de morte não natural evitável. Além das perdas de vidas humanas, que é o mais grave de tudo isso, o Brasil ainda tem um alto custo com os sinistros, sendo 20% referente somente aos custos dos hospitais que atendem acidentados seja pelo SUS ou em unidades privadas.
Em 2018, por exemplo, o Brasil gastou com sinistros de trânsito R$ 59,4 bilhões e a Paraíba, R$ 1,6 bilhão. Deste total de gastos, 20% segundo o IPEA, são relativos a custos com a saúde, o que equivale que a Paraíba teve gastos com saúde referente a acidentes de trânsito na ordem de R$ 320 milhões naquele ano. E segundo projeções do IPEA, a Paraíba deverá gastar, em 2028, o equivalente a R$ 2,4 bilhões com acidentes de trânsito, sendo 20% deste total somente com gastos de saúde. Na última década, as internações hospitalares decorrentes de sinistros de trânsito consumiram R$ 2,9 bilhões do SUS, que a cada três dias gasta, em média, de R$ 2 a R$ 2,5 mil com os acidentados em serviços de menor complexidade e de R$ 3,6 mil a R$ 4 mil, nos serviços de alta complexidade.
As internações por sinistro de trânsito também impactam na ocupação de leitos no SUS, já que 60% dos leitos em todo o país são ocupados por vítimas de acidentes de trânsito e 50% das cirurgias realizadas são decorrentes desta demanda. No CHRDJC essas internações correspondem a 22% do total de vítimas atendidas. Em 2019 foram 432 internações, em 2020, outras 395 e de janeiro a agostos deste ano já foram contabilizadas 453 internações com vítimas de sinistros de trânsito. “Vale salientar que o paciente vítima de acidente impacta tanto a vida dele, quanto da família e também do mercado de trabalho porque, na maioria das vezes, ele fica afastado em função das sequelas do acidente que não são apenas físicas, mas, também psicológicas”, lembra Gorete.
A série histórica de atendimentos por sinistro de trânsito no CHRDJC vinha numa ordem crescente antes da pandemia se instalar em 2020, mas, com o isolamento social, que forçou as pessoas a saírem menos de casa, esse número foi reduzido. Em 2017, por exemplo, 2.973 pessoas foram atendidas na Urgência e Emergência da unidade vítimas de sinistros de trânsito. No ano seguinte, em 2018, esse quantitativo subiu para 3.070 e, em 2019, chegou a 3.619. Em 2020, reduziu um pouco, e atingiu a marca de 3.138 casos. “De fato, nossos dados internos apontam que o impacto de pessoas que chegam em nossa porta de entrada vítimas de acidentes é bastante considerável”, atesta a responsável pela gestão de indicadores do hospital, Gorete Rezende.
Somente este ano, de janeiro a agosto, o Complexo já atendeu 2.118 pacientes vítimas de sinistros de trânsito, sendo a imensa maioria delas, 85% do total, de pessoas que se acidentaram com motocicletas. Esses dados correspondem a um total de 12% do total de atendimentos da Urgência e Emergência da unidade neste período. Por faixa etária, os jovens e adultos são os que mais se acidentam. “Nessa primeira década de ação, a meta do Brasil era reduzir em 50% as mortes por sinistros de trânsito, mas, infelizmente, não conseguimos. A meta agora, de 2021 ate 2030, é reduzir as lesões graves que aumentaram muito nos últimos anos”, finaliza Gorete.
Usar ‘sinistro’ e não mais ‘acidente de trânsito’
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a revisão da NBR 10697/2018 e redefiniu os termos técnicos usados na preparação e execução de pesquisas relativas e na elaboração de relatórios estatísticos e operacionais a incidentes de trânsito. A norma corrige a expressão “acidente de trânsito”, substituída por “sinistro de trânsito”, e suprime o entendimento de sinistro “não premeditado”. Uma das bandeiras da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), a adoção do termo sinistro e a requalificação dessa norma foi uma vitória importante para as ações e políticas voltadas a preservação da vida no trânsito.
“Os acidentes de trânsito, na sua maioria, não são acidentais, do acaso, mas sim provocados. São passíveis de prevenção e o termo acidente traz a conotação de algo imprevisível e incontrolável, sem nenhum nexo de causalidade, o que contraria o conhecimento acumulado sobre a matéria”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Antonio Meira Júnior, em texto publicado no www.abramet.com.br.