O teste de triagem neonatal, na sua modalidade ampliada, pode ser implantado na rede estadual de saúde da Paraíba em breve. Um importante passo neste sentido foi dado nesta quarta-feira (14), a partir da realização de uma audiência pública proposta pelo deputado estadual Jeová Campos, que reuniu a secretária de Saúde da Paraíba, Claudia Veras, a médica geneticista do Distrito Federal, Maria Teresa Rosa, além de representantes da UFPB, Ministério Público, Conselhos Regional de Medicina e Enfermagem, Sindicato dos Médicos, além de outras instituições. A audiência foi realizada no auditório da Câmara Municipal de João Pessoa.
Atualmente, a Paraíba conta com uma rede de coleta que abrange 183 municípios e 211 postos, e tem uma cobertura de 73% de triagem neonatal de doenças preconizadas pelo Ministério da Saúde. Porém, dos 21 testes padrões, só são realizados pela rede pública estadual seis testes no Laboratório Central (Lacen). A secretária de Saúde, Cláudia Veras, reiterou o compromisso do governo estadual em ampliar esse serviço, afirmou que é preciso que para tanto haja disponibilidade de recursos e reconheceu que o investimento em prevenção é de fato muito importante.
“A gente já tem um compromisso na SES de ter um olhar específico das necessidades de saúde do dia a dia, mas, também de trabalhar com a perspectiva de estarmos abertos para atender a novas demandas que possam ser identificadas, a exemplo desta ampliação do teste, mas é preciso lembrar sempre que trabalhamos com um orçamento e que qualquer mudança é preciso estar respaldada nos recursos disponíveis”, destacou a secretária, parabenizando o deputado Jeová por provocar esse debate.
A médica geneticista Maria Teresa Rosa fez uma explanação sobre a implantação do serviço de triagem ampliada no Distrito Federal que, atualmente, tem cobertura de 100% em sua rede pública de saúde. Ela lembrou que fora do país essa triagem ampliada, que identifica através de testes padrões cerca de 50 enfermidades, já é feita há 20 anos. “Enquanto isso, no Brasil ainda estamos debatendo a implantação destes testes ampliados onde algumas gotinhas de sangue retiradas do calcanhar do recém- nascido, nos primeiros sete dias de vida, são capazes de salvar a vida do mesmo”, destacou ela, lembrando que a implantação do teste ampliado depende muito da vontade política dos dirigentes. “O equipamento custa cerca de R$ 2 milhões, tem o custo do kit que é o mesmo que já é usado nos testes, portanto, não é um investimento tão alto assim frente a importância desta iniciativa, inclusive para reduzir gastos com atendimentos e internações decorrentes de doenças não identificadas precocemente”, reiterou a médica.
Durante a audiência, a chefe de gabinete do deputado Jeová Campos, Luciana Mendes, deu um testemunho do que aconteceu com seu filho, falecido há 15 anos, com pouco mais de um ano de vida, por complicações de saúde fruto da falta de um diagnóstico preciso e precoce. “A falta de um teste que diagnosticasse precocemente o problema de inato metabolismo de meu filho lhe custou a vida e quantas mães ainda terão que passar por essa dor de perder um filho por falta de um diagnóstico precoce, onde as chances de tratamento e cura existem?”, indagou Luciana, bastante emocionada, após narrar o drama que viveu tentando salvar a vida de seu filho.
O Dr. Tarcísio Campos, secretário geral do Sindicato dos Médicos, a diretora do Lacen, Marta Rejane, Dr. Anderson Lima, representante do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o representante do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Emanuel Rodrigues, a pediatra e chefe do Departamento de Pediatria da UFPB, Liane Carvalho, Dr. Raniere Santos, promotor de Justiça, representante do Ministério Público, também se manifestaram na audiência, ressaltando a importância do debate sobre a ampliação deste serviço e, sobretudo, da adoção do teste ampliado para um percentual de 100% de cobertura na rede pública estadual.
O deputado estadual Jeová Campos falou de sua satisfação de provocar essa discussão no âmbito da Assembleia Legislativa e destacou sua alegria de ter reunido pessoas tão importantes e que elevaram o tom dos debates, dando a exata dimensão de que essa questão do teste do pezinho é de alta relevância. “Eu estou muito satisfeito de estar conduzindo esse debate que pode mudar a vida de muitos paraibanos, porque é sabido que se identificada determinadas patologias precocemente e sendo tratada a tempo, a pessoa pode ter uma vida normal e essa é uma questão que trata da qualidade de vida humana, portanto ela é de suma importância”, destacou o parlamentar que já apresentou e protocolou, no último dia 20 de fevereiro, um Projeto de Lei que assegura a todas as crianças nascidas nos hospitais, maternidades e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes da rede pública de saúde do estado, o direito ao teste de triagem neonatal, na sua modalidade ampliada.
Teste do Pezinho
O teste do pezinho é um exame obrigatório para todos os recém-nascidos, que deve ser realizado após as primeiras 48 horas de vida e até sete dias. Com uma pequena picada no calcanhar, é possível identificar várias doenças e tratá-las a tempo, antes que elas afetem o desenvolvimento do bebê. O teste consiste em obter e analisar uma amostra de sangue do recém-nascido, a fim de detectar doenças metabólicas, infecciosas, congênitas e/ou genéticas, a exemplo da fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, hiperplasia adrenal, galactosemia, deficiência de biotinidase, toxoplasmose congênita, fibrose cística, anemia falciforme e outras hemoblobinopatias e leucinose.