O ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, in memoriam, sempre disse em seus discursos quando se referia a cultura canavieira que a cana-de-açúcar era a rainha das lavouras. Os historiadores se reportam a cultura como a mais antiga do país. Os economistas como um dos principais sustentáculos econômicos do Nordeste, especialmente, nos estados de Alagoas, maior produtor de cana da região, seguido de Pernambuco e Paraíba. Contudo, a cultura ainda é, equivocadamente, apontada como vilã, como degradadora do solo quando, na realidade ela produz uma infinidade de itens, é fonte geradora de emprego e renda e, por pertencer a família das gramíneas, a cana-de-açúcar não suga o solo como muita gente ainda supõe.
Os artigos técnicos sobre a planta destacam que a cana-de-açúcar pertence a família das gramíneas que são, sem sombra de dúvidas, de vital importância para o ser humano. Além de numerosas espécies que podem ser utilizadas como pasto para os animais, o homem consome a semente de várias espécies dessas plantas fundamentais e se elas desaparecessem, o ser humano e outros animais acabariam morrendo de fome, destaca o artigo sobre Ecologia e Meio Ambiente, do site www que é.com, na parte que fala das Gramíneas.
O produtor rural e diretor da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), Oscar Gouvêa, nunca aceitou essa condição pejorativa e injusta dada a cana-de-açúcar de que ela degrada o solo e é uma cultura exploratória e atribuiu essa falsa visão ao preconceito em relação à atividade, secularmente ligada ao período escravocrata que viveu o país. “No início da colonização do Brasil até meados do século passado, as práticas no campo, no que diz respeito ao trabalho, não eram regulamentadas, a legislação ainda é recente, da década de 70 para cá, daí a associação da cultura à exploração do homem do campo ter se perpetuado, injustamente, por absoluta falta de conhecimento da realidade da cultura. Até a prevalência da cana, em detrimento de outras culturas, ou seja, o monopólio da produção, também foi encarado, por muitos anos, como negativo, quando na realidade sempre foi algo positivo, pois quem opta pela cana, apesar dos períodos de crise, não deixa de plantar”, destaca Oscar.
Ele lembra que além da cana-de-açúcar não provocar desgaste no solo, também não exclui a possibilidade de outros plantios e, apesar de ser uma lavoura dominante, na Paraíba, por exemplo, os municípios líderes na cultura, tais como, Santa Rita e Mamanguape além da cana também cultivam, em larga escala, abacaxi e mandioca, além de terem uma forte atuação no setor pecuário. “Portanto, é injusto associar uma cultura que resiste há mais de 500 anos, no mesmo solo, que rebrota seis safras seguidas, em média, que resiste até a nematoides, à degradação do solo?”, questiona o diretor da Asplan.
A visão negativa da cultura, além da associação ao período escravocrata, quando as lavouras eram mantidas pelos escravos, nos antigos engenhos, talvez se dê também porque a cultura ainda é colhida após às queimadas. “Até isso tem seu lado positivo, já que se repõe o potássio do solo, pois a cinza é rica em potássio, mas, o pessoal só associa a questão da fumaça”, esclarece o produtor.
O presidente da Asplan, Murilo Paraíso, reforça que essa visão negativa sobre a cultura deve ficar no passado. “Hoje, os trabalhadores canavieiros são bem remunerados, usam EPI’s, têm condições de trabalho dignas, recebem um remuneração compatível com suas funções, são transportados em segurança, em ônibus, a cana gera uma infinidade de importantes subprodutos, além do álcool e açúcar, o setor é o que mais emprega no campo, enfim, já passou da hora da sociedade brasileira reconhecer a cana como uma cultura que orgulha o país, que alavanca o desenvolvimento e produz riquezas. Essa visão equivocada precisa deixar de existir”, afirma Murilo.