Brasileiro foi acostumado a ler mitos sobre defensivos agrícolas e por isso o agronegócio sofre injustiças com informações equivocadas

É preciso falar com conhecimento cientifico quando se trata de defensivos agrícolas
É preciso falar com conhecimento cientifico quando se trata de defensivos agrícolas

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou este ano 290 produtos para serem utilizados nas lavouras brasileiras. O número, embora chame a atenção, ainda é menor que o montante liberado no governo de Michel Temer, quando o presidente autorizou a comercialização de 450 itens. No entanto, nem passado nem presente justifica a avalanche de críticas a liberação do uso de defensivos. O fato é que a maioria não é propriamente de novos produtos, mas sim de novas formulações para substâncias anteriormente liberadas. Para o presidente da Associação de Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), José Inácio de Morais, a falta de informação do brasileiro sobre o uso dos agrotóxicos no Brasil e no mundo tem criado mitos e inverdades sobre o tema.

Exemplo disso é quando se propaga aos quatro cantos que o Brasil é o país que mais utiliza agroquímicos no mundo. Isso não é verdade. O Japão, um país conhecido pela longevidade de sua população, utiliza oito vezes mais defensivos agrícolas que o Brasil. O Japão, assim, acaba sendo o primeiro país no mundo em concentração por área plantada. É o que aponta o estudo da Universidade Estadual Paulista em Botucatu (Unesp) apresentado este ano no fórum Diálogo: Desafio 2050 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, promovido em São Paulo pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Embrapa, Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

De acordo com o estudo, o Brasil, embora utilize o maior volume de defensivos (em função do tamanho continental), ocupa o 7º lugar na proporção com a quantidade de terras cultivadas, ficando atrás de países como Japão, Alemanha, França e Reino Unido. “As informações sobre o uso de defensivos no Brasil é, portanto, desconectada da realidade e serve apenas para criar mitos e confundir as pessoas, colocando-as contra o agronegócio”, reitera o presidente da Asplan, lembrando que sem os defensivos agrícolas, que são usados de maneira responsável, mais da metade da produção de alimentos no mundo não existiria, pois as pragas destruiriam a produção nesta proporção

O dirigente da Asplan destaca ainda que um episódio do programa “Zorra Total”, da Rede Globo, em que, através da enquete “Sítio do Pica-Pau com Sequela” , satirizou o uso de defensivos agrícolas, colocando o produtor brasileiro como “vilão” e causador de doenças, ilustra bem essa falta de informação sobre o uso de defensivos no país. Várias entidades ligadas ao agronegócio redigiram notas de repúdio a veiculação do quadro do programa da emissora. Em todos, o setor exige respeito da emissora, tendo em vista que o Brasil possui uma das agriculturas mais pungentes do mundo e responsável pela alimentação de bilhões de brasileiros.

“Registre-se que os produtos liberados são, em sua maioria biológicos, e que o Brasil ocupa o 44º lugar no ranking de uso de defensivos agrícolas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)”, destaca José Inácio. O Ministério da Agricultura (MAPA) também esclareceu, no final de junho, que do total dos 42 insumos liberados na época, apenas um produto trazia um ingrediente novo, os demais foram todos produtos genéricos que já estavam presentes nos campos.

“Da lista de registros, 29 são produtos técnicos equivalentes, ou seja, genéricos de princípios ativos já autorizados no país para o uso industrial. Outros 12 de princípios ( 10 de origem química e dois de origem microbiológica) são produtos genéricos que já estão prontos para serem usados no controle de pragas. Em média, os produtos registrados hoje já estavam há quatro anos nas filas para aprovação”, diz a notícia registrada pelo próprio ministério no Ato 42/2019.

O presidente da Asplan, José Inácio de Morais, acredita que a população brasileira foi “levada” por uma onda de notícias negativas em torno dos agroquímicos e, em paralelo a isso, muitos foram levados a acreditar que produtos orgânicos são mais nutritivos que os demais. Existem diversas pesquisas já realizadas sobre o assunto e que não apontam para uma superioridade dos orgânicos. “O que vemos é muita desinformação sobre o assunto e as pessoas sendo levadas a acreditar e a pagar muito mais caros por produtos orgânicos. Os dois modos de produção geram alimentos saudáveis, nutritivos e seguros”, disse José Inácio.

O dirigente da Asplan lembra ainda que a liberação dos defensivos pelo Governo Federal apenas foi acelerada. “As exigências continuam as mesmas. Esses defensivos já estavam na fila pela provação há tempos”, salientou o presidente da Asplan. José Inácio espera que com as novas substâncias liberadas, o produtor consiga defensivos mais baratos. “São mais de 280 princípios ativos liberados para que ocorra uma melhor distribuição das empresas para baratear os produtos”, comentou.

Por outro lado, o Brasil também estava muito atrasado em relação ao uso dos defensivos. Quando se liberava a comercialização de um, muitas vezes ela já estava sem desuso porque já tinha outro melhor no mercado. “O Governo está tentando resolver isso dando celeridade aos processos de análises e aprovação de cada produto”, disse José Inácio, confiante de que a estratégia dará certo e será algo que o governo terá feito pela sustentabilidade do agronegócio no Brasil, afinal, o alimento orgânico não alimenta um país das proporções do Brasil.

Segundo o jornalista Nicholas Vita, autor do livro Agradeça aos Agrotóxicos Por Estar Vivo, fala-se muito da produção sem agrotóxicos, como se esses produtos fossem alimentar o mundo, mas não vão. “Apenas no mercado da batata, os preços são 300% mais caros, e representam menos de 0,5% da produção”, critica o jornalista.

As várias cartas de repúdio de entidades ligadas ao setor, inclusive a Asplan, após exibição do quadro no Zorra Total, portanto, representa a opinião do setor produtivo como um todo que lembra que: “leite não brota em garrafas, arroz, feijão e carne não são produzidos através de palavras na televisão. Respeitem a quem alimenta o mundo. Respeitem o produtor rural”.

Ao desmistificar o assunto, o presidente da Asplan, José Inácio de Morais, disse apenas que é preciso informar com conteúdo. “A Imprensa não pode ceder a modismos. Ela tem que informar com qualidade e conhecimento cientifico e veicular o que realmente acontece no campo”, finaliza o presidente da Asplan.

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